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ENTRA EM VIGOR O DECRETO N. 9.723/19 (11/03/2019) PARA REGULAMENTAR A LEI N. 13.460/17 E ATRIBUIR EFETIVA FINALIDADE AO CPF COMO DOCUMENTO
SUFICIENTE E SUBSTITUTIVO DE OUTROS DOCUMENTOS.
Por
Aulus Eduardo Teixeira de Souza[1]
Sob o pálio do promitente e reiterado discurso
da desburocratização da prestação de serviços públicos ao cidadão brasileiro, o
Governo Federal editou em março deste ano (2019), um Decreto importante que regulamenta
a Lei de simplificação de procedimentos burocráticos na prestação de serviços
pela Administração Pública aos cidadãos.
Se trata do Decreto nº 9.793/19, que
regulamenta a Lei de simplificação, tornando o número do Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF), um instrumento único necessário para ser utilizado junto a tomação de
serviços públicos, cuja medida pode ser considerada embrionária para adoção do
Documento Digital Único (DGU) ou Documento Nacional de Identificação (DNI).
O referido Decreto nº 9.723/19 altera
disposições de outro Decreto (9.094/2017), o qual, por sua vez, regulamenta
dispositivos da Lei nº 13.460/2017, cuja norma, tem por finalidade regulamentar
as disposições referentes a simplificação, participação, defesa e proteção dos
direitos e garantias dos usuários em face da prestação de serviços da Administração
Pública.
Nos termos da Lei, o documento denominado “CPF”,
torna-se a partir de sua promulgação, instrumento suficiente e substitutivo da
obrigatoriedade ou necessidade de o cidadão ter que apresentar outros
documentos no exercício de suas obrigações, direitos ou obtenção de benefícios
regulamentares ofertados pelo governo.
Nesse sentido, a Lei nº 13.460/2017 se
assemelha à Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor - CDC), enquanto o
CDC disciplina de forma esmagadora a prestação de serviços e comercialização de
produtos no âmbito das relações de consumo, privadas ou não, a referida lei
disciplina de forma semelhante, as relações entre o cidadão e o órgão público
prestador de serviços a sociedade.
Isso porque, o usuário de serviço público tem direitos
básicos e deveres a serem obedecidos, os quais não podem ser objurgados sob
nenhum aspecto, pois, devem os agentes públicos e prestadores de serviços, os
assemelhados inclusive, observar algumas diretrizes consoante os incisos do
artigo 5º da referida legislação.
Todavia, o que assusta é que, em regra, as
diretrizes estabelecidas – boa parte pelo menos – pela norma, são praticamente
ou deveriam ser, delimitadas pela “práxis”
da boa educação, sendo preciso impor legalmente isso, para que a regra seja
respeitada.
Comportamentos e aspectos como: urbanidade,
respeito, cortesia no atendimento, cujos aspectos, deveriam ser a regra,
demonstram pelos fatos serem a exceção. Assim também é a presunção de boa-fé do
usuário, atendimento por ordem de chegada, ressalvados os casos de urgência e
prioridade legais a idosos, PNE, gestantes, lactantes e pessoas com criança de
colo. A lei impõe a obrigação aos agentes que prestam serviços públicos, no
exercício de seus múnus, de dispensar o máximo respeito com o cidadão.
Taxativamente as diretrizes vedam a imposição e
exigências, obrigações, restrições e sanções não previstas no ordenamento
jurídico, tipo, “deixar o documento em garantia de qualquer outra medida”,
“cobrar pequenas taxas sem previsão legal”, coisas do tipo. Além disso, exige
que o tratamento dispensado aos usuários dos serviços públicos seja isonômicos,
vedando discriminações de qualquer espécie.
Veda a necessidade de reconhecimento de firma
nos documentos, os quais, à vista dos originais, podem ser autenticados pelo
próprio agente público, salvo se houver dúvida quanto a sua autenticidade, bem
como, a exigência de que se faça prova de fato já comprovado anteriormente.
Os órgãos e delegatários de serviços públicos
devem detalhar os compromissos e padrões de qualidade, discriminando, pelo
menos, a prioridade no atendimento, a previsão de tempo de espera para atender,
qual o meio de comunicação posto à disposição dos usuários para contatar o Órgão
e promover reclamações e quais os instrumentos de controle dos andamentos do
serviço solicitado.
Para garantia dos respectivos direitos
estabelecidos na lei, o usuário deve formalizar sua manifestação a Ouvidoria do
Órgão ou Entidade responsável, cuja manifestação, poderá ser efetivada por meio
eletrônico, correspondência convencional, pedido verbal reduzido a termo e
ainda, a disponibilização aos usuários, pelos respectivos Órgãos, de formulários
simplificados para apresentação dos respectivos requerimentos.
Ademais, os procedimentos administrativos lavrados
pelo descumprimento das condutas descritas na Lei, devem observar taxativamente
os princípios da eficiência e da celeridade na busca da resolução do problema
relatado. A lei prevê ainda, a efetivação das Ouvidorias dos referidos órgãos
públicos, permitindo a interação do usuário com o aperfeiçoamento da referida prestação
de serviços.
Uma das novidades é a possibilidade de criação
de Conselhos de usuários de serviços públicos, destinados a avaliar a prestação
de serviços e a atuação do Ouvidor, avaliando e relatando as não-conformidades.
Os órgãos prestadores de serviços públicos deverão avaliar permanentemente os
serviços prestados.
Certo é que a lei em comento foi publicada em
26/06/2017 e, portanto, vigora em municípios com mais de 500 mil habitantes a
contar de um ano de sua publicação; em municípios entre 100 e 500 mil
habitantes a contar de um ano e meio e, em municípios com menos de 100 mil habitantes
a contar de dois anos.
Assim, carecia apenas da regulamentação e, esta
veio em 11/03/2019, cujo Decreto regulamentador, n. 9.723/2019, entrou em vigor
recentemente. De toda sorte, em resumo, o CPF segundo o novel Decreto
substituirá alguns documentos[2]. Por
fim, não é demais ressaltar que o agente público, militar ou não, sujeita-se às
penalidades previstas na Lei nº 8.112/90 e Lei nº 6.880/80 pelo descumprimento
do disposto na referida Lei de Simplificação.
[1] Mestre em Direito pela Universidade de
Caxias do Sul. Especialista em direito e processo tributário, constitucional e
administrativo pela Escola Paulista de Direito. Especializando em Direito
público pela PUC-Minas. Presidente da comissão de segurança pública, assuntos
prisionais e direito criminal da 20ª subseção da OAB/SC. Membro efetivo do
IASC. Procurador Jurídico de Prerrogativas da OAB/SC. Advogado.
[2] Número de Identificação do Trabalhador
(NIT); Programa de Integração Social (PIS) ou o Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (Pasep); Carteira de Trabalho e Previdência
Social; Número da Permissão para Dirigir ou da Carteira Nacional de Habilitação
(exceto na condução de veículos); Número de matrícula em instituições públicas
federais de ensino superior; Certificados de Alistamento Militar, de
Reservista, de Dispensa de Incorporação e de Isenção; Inscrição em conselho de
fiscalização de profissão regulamentada; Número de inscrição no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal e demais números de inscrição
existentes em bases de dados públicas federais.
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